Passagem de Santos Dumont pelas Cataratas do Iguaçu faz 100 anos
Há 100 anos, as Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, recebiam a visita de Santos Dumont. A passagem do aclamado aviador pela região foi fundamental para a criação do Parque Nacional do Iguaçu, principal cartão-postal da região e responsável por atrair mais de 1,5 milhão de pessoas por ano à cidade.
“Quando passei por Curityba, fui falar com o presidente do Estado [Afonso Camargo] sómente sobre o lguassú: pedir-lhe se interesses pelo salto, o torne mais fácil e commoda a excursão, imagine que não existe nem hotel por aquellas paragens.
Existe, com o nome de hotel, uma casinha, com dois quartos e uma sala apenas...”, declarou Dumont na época, sugerindo o que seria mais tarde a principal vocação econômica da região.
A visita não foi planejada, afirma o piloto aposentado e instrutor de voo Renato Rios Pruner, autor do livro “Frederico Engel, pioneiro no turismo e hotelaria em Foz do Iguaçu”. O bisneto de Engel falou com o G1 sobre um dos símbolos mais importante da cidade, que comemora nesta sexta-feira (10) 102 anos de emancipação.
“Meu bisavô ficou sabendo que Santos Dumont estava em Porto Aguirre, onde atracavam os vapores chegados de Posadas – capital do estado argentino de Misiones, na fronteira -, vindo de Buenos Aires. Pensou na importância que isso teria e, depois de falar com o prefeito coronel Jorge Schimmelpfeng, foi para lá fazer o convite para que ficasse uns dias na cidade”, lembra.
O aviador ficou na então Vila Iguassu de 24 a 27 de abril de 1916. Primeiro se hospedou no Hotel Brasil, na cidade. E, à tarde, partiu a cavalo com Engel e o filho até outro hotel que levava o mesmo nome, próximo aos Saltos de Santa Maria, as hoje famosas Cataratas do Iguaçu, onde ficou por dois dias, contemplando-as de todos os ângulos que podia, “de dia e de noite, à luz do luar”.
A estrada de 18 km pelo mato, rememora Renato, era mantida pelo seu bisavô e cortava uma propriedade privada que pertencia ao uruguaio Jesus Val. Eram seis horas de viagem de carroça. Atualmente, seriam necessários pouco mais de 20 minutos para percorrer a mesma distância e se deparar com o maior conjunto de quedas d'água do mundo.
Cenário encantador
A “casinha” mencionada por Dumont, onde ficou hospedado, pertencia a Frederido Engel, que arrendou do uruguaio o pequeno barraco e uma porção de terra junto aos saltos para explorar turisticamente. “O que distraía o turista era a grande variedade de pássaros – tucanos, pombas, papagaios, caturritos, colibris, e muitas outras espécies. Havia muitos animais – bandos de macacos, quatis, iraras, veados, etc. Tudo isto, bem como as lindas parasitas em árvores frondosas, distraía o sacrificado viajante”, descreve no livro.
A fauna e a flora do parque ainda chamam a atenção dos visitantes, agora transportados em ônibus panorâmicos pelo mesmo trajeto na mata aberto por Engel e seu batalhão de peões responsáveis pela manutenção da estrada.
“No primeiro passeio que fez, acompanhado por Frederido, Santos Dumont subiu numa tora que estava presa às pedras e uns cinco metros por cima do Salto Floriano. Frederico ficou apavorado, considerando o imenso perigo a que estava se expondo e pela responsabilidade que havia assumido, empenhando-se em trazê-lo para o lado brasileiro. Foram momentos de verdadeira angústia. O aviador não se importou com o tempo que ali esteve, de braços cruzados, sobre um precipício de 80 metros”, cita outro trecho.
Criação do parque
Impressionado com o que tinha visto e inconformado por se tratar de uma propriedade privada, Dumont convenceu-se de que deveria fazer algo. “Posso dizer-lhe que esta maravilha não pode continuar a pertencer a um particular. Eu vou a Curitiba falar com o presidente do Estado do Paraná, para providenciar a desapropriação das Cataratas e dos 205 mil hectares de terra (o que hoje é o Parque Nacional do Iguaçu).”
Foram seis dias de viagem a cavalo até Guarapuava acompanhado de um soldado da polícia e por um fiscal da prefeitura. De lá, seguiu de carro e de trem até a capital do estado, onde chegou nove dias depois de ter deixado a fronteira. No dia 8 de maio foi recebido por Afonso Camargo, a quem sugeriu a desapropriação da área e a criação de um parque. Poucos meses depois a área passou a pertencer à União.
E, no dia 19 de janeiro de 1939, um decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas criava junto às Cataratas de Santa Maria o Parque Nacional do Iguaçu, com os seus atuais 185 mil hectares do lado brasileiro. Além das cataratas, o parque abriga o maior remanescente de floresta Atlântica da região sul do Brasil.
Festejadas e admiradas pelos milhões de pessoas que já fizeram o mesmo caminho percorrido por Dumont, o único desapontado com as consequências da visita às quedas d'água tenha sido o antigo dono das terras. Em uma carta a Engel, Jesus Val reclama do preço pago pelo governo brasileiro pela propriedade, "muito abaixo do que gastou nas várias viagens até Curitiba para poder receber".
Uma estátua de bronze, inaugurada em 1979, homenageia a passagem do ilustre visitante ao local, considerado o padrinho da unidade de conservação, a segunda mais visitada do país, atrás apenas do Parque Nacional da Tijuca, que abriga o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
Para lembrar o centenário da passagem do pai da aviação pelas Cataratas do Iguaçu, um totem recebe os visitantes na entrada da reserva, intitulada Patrimônio Mundial Natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde 1986. Desde 1999, a estrutura de visitação do PNI é administrada pela Concessionária Cataratas do Iguaçu S.A..
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