Jovem percorre mais de 8 mil km pela América do Sul com moto de 125 cc
Três meses rascunhando roteiros, R$ 600 e um cartão de crédito na carteira, check-up no mecânico e mais uma dose de coragem: tudo certo para partir. A descrição é de uma jovem de 22 anos que saiu de Sorocaba (SP) para realizar o sonho de fazer um mochilão pela América do Sul. Nada de novidade, se a companheira de viagem de Rebeca Bonel não fosse a "Bizoca", sua moto de 125 cilindradas. “Minha família disse que seria uma experiência incrível, mas para eu não ir com a moto porque não chegaria nem no Uruguai. No fim, contabilizei mais de 8 mil quilômetros percorridos”, comemora.
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A estudante de engenharia civil saiu do interior paulista no dia 2 de janeiro com a ambição de conhecer quatro países sul-americanos em menos de 30 dias. "Sempre quis fazer uma viagem internacional, então fui colocando os lugares que queria visitar no papel, sem saber se realmente daria certo. Aproveitei as férias da faculdade e do trabalho e fui." Ela conta que nos primeiros dias sozinha na estrada teve medo, mas não pensou em voltar para casa. "Depois de algumas cidades fui me acostumando e vi que não era esse bicho de sete cabeças", revela.
gostou na Argentina (Foto: Arquivo Pessoal)
Seguindo pela região sul do Brasil, Rebeca viajou com a motoneta até Curitiba (PR), a mais de 370 quilômetros de casa. O roteiro incluiu paradas em Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS) e Jaguarão (RS) e, em quatro dias, já estava fora do país. A primeira cidade estrangeira em que pôs os pés foi a uruguaia Punta del Este, eleita por Rebeca um dos locais favoritos da viagem. "É uma Beverly Hills latino-americana. Tem uma praia maravilhosa, as pessoas parecem estar sempre curtindo as férias e as ruas são bem largas. Você tem certeza de que não está no Brasil", brinca.
Depois de visitar todo o litoral do Uruguai, a jovem cruzou a fronteira argentina para conhecer a turística Buenos Aires, além de La Plata e Rosário. A maior cidade da província de Santa Fe, com uma população aproximada de 1,2 milhões de habitantes, foi o segundo ponto escolhido entre os preferidos de Rebeca. "Rosário é uma cidade universitária com muitos locais bonitos para visitar. Conheci o Parque Nacional à Bandeira, um observatório e também o planetáriomunicipal", pontua.
Bienvenido a Chile
De Godoy Cruz, ainda em solo argentino, Rebeca prosseguiu para Santiago, capital do Chile, passando pelas cordilheiras dos Andes. "São quase 100 quilômetros e não tem nada nem de um lado e nem do outro. Só tem montanhas e é uma paisagem linda, perfeita para pensar e contemplar." Voltando à terra de Maradona, a estudante acrescentou Luján, San Luis, San Francisco e Corrientes na lista de cidades exploradas, mas não sem passar por algumas dificuldades.
"Fazia muito calor na Argentina e enfrentei 80 quilômetros sob sensação térmica de 45ºC. Os postos de combustíveis também estavam mais escassos, às vezes bem caros, e muitos não aceitavam a bandeira do meu cartão de crédito, então precisei carregar galões algumas vezes. Além disso, a altitude elevada em alguns trechos da viagem prejudicava a combustão da moto e cheguei a rodar apenas 30 quilômetros por hora", lembra.
O último perrengue aconteceu já na volta para casa, quando Rebeca estava na cidade de Foz do Iguaçu (PR). "Visitei duas cidades paraguaias e, quando cruzei para o lado brasileiro, o pneu da 'Bizoca' furou. Tive que empurrá-la por seis quilômetros até chegar a um local que pudesse fazer o conserto, uma aventura", lembra.
calorosa dos estrangeiros (Foto: Arquivo Pessoal)
Histórias de simplicidade
Durante a aventura com a "Bizoca", Rebeca colecionou histórias e amigos. Esteve sozinha na estrada, mas, em muitas paradas, foi recebida na casa de famílias para passar a noite. "O que me marcou foi a simplicidade e humildade dessas pessoas, que me acolheram dentro de seus limites. Às vezes compartilhando do pouco que tinham e até oferecendo a própria cama porque eu era a visita."
Já com a missão inicial cumprida, a jovem chegou a Sorocaba no dia 26 de janeiro com a convicção de que a viagem superou todas as expectativas. "Antes de sair viajando, ouvi comentários de motociclistas pessimistas e otimistas. É importante respeitar o que essas pessoas têm a dizer, mas também lembrar que aquilo foi a experiência delas. Quis ir lá e tirar as minhas próprias conclusões."
Para 2018, Rebeca já tem planos: "Levar a 'Bizoca' até solo peruano: Machu Picchu", finaliza.